Cartas de Carneiro Vilela e de Júlio Pires Ferreira, negando-se, por motivos diferentes, a participar da Academia Pernambucana de Letras. Discurso de Carneiro Vilela quando da sessão de instalação da APL.
Nos fins do Século XIX, já na sua última década, começou a ser cogitada, por alguns intelectuais locais, a criação de uma nova academia literária, que teria o nome de Academia Pernambucana de Letras.
A primeira notícia que temos sobre ela é através de uma carta, assinada por José Izidoro Martins Júnior, Artur Orlando, Eduardo Carvalho e Joaquim Thiago da Fonseca, e endereçada a Carneiro Vilela, convidando-o a fazer parte da nova associação.
Estranhamente, mesmo já tendo participado de outros grêmios literários, a exemplo do Grêmio Dramático – no qual ocupara, inclusive, o cargo de secretário –, Carneiro Vilela não aceitou o convite, publicando, a respeito, no conceituado jornal A Província (de 3 de julho de 1890, pág. 2), uma extensa carta, onde expõe os motivos que o levavam àquela recusa.
A carta é precedida por um pequeno comentário da redação de A Província:
Dr. Carneiro Vilella – Este nosso ilustrado collega endereçou-nos bem elaborada carta, que temos a satisfação de publicar e na qual dá os motivos porque não aceita o convite para fazer parte de uma associação dedicada ao florescimento das lettras patrias e à defesa dos socios. A resposta do Dr. Carneiro Vilella é digna de ser conhecida e apreciada por todos pois é ella creteriosa e cabal.
Por nossa solicitação, intermediada pelo jornalista Ronildo Maia Leite, então Diretor do Arquivo Público Estadual, e transcrita, a 29 de janeiro de 2004, por Marly Gondim, funcionária daquela instituição, eis, respeitada a grafia da época, aquela carta:
Meu caro Arthur Orlando:
Há dias recebi uma carta, assignada pelo Dr. José Izidoro Martins Júnior, por ti, pelo Eduardo Carvalho e por Joaquim Thiago da Fonseca, convidando-me para assistir a 1ª sessão preparatória de uma associação destinada ao engrandecimento das lettras patrias e à dos que a ellas se dedicam, a qual sessão deve realisar-se hoje, 2 de julho, pelas 6 e ½ horas da tarde, na sede do Gabinete Portuguez.
Se outros fossem os signatários desse convite, com que fui honrado e que summamente agradeço, crê que não lhe daria resposta alguma e o atiraria, sem lei-o talvez para a cesta destinada a receber papéis inúteis. A consideração, porém, que me merecem os signatários, impõe-me o dever de tomar o convite em consideração e de dar-lhe uma resposta já que, com a minha presença não posso significar que o aceito. Parecer-te-ha exquisita talvez esta minha resolução, hoje principalmente em que todo o mundo anda à cata de distincções e procura por-se em evidencia; mas por isso mesmo devo expor de cara, embora succintamente, os motivos que a determinam, dando-te ao mesmo tempo conta do meu modo de pensar a respeito dessa projectada associação e de quejandas distinadas ao cavilloso engrandecimento das lettras e a ainda mais cavillosa protecção aos que, entre nós, infelizmente, com ellas se occupam.